terça-feira, 27 de abril de 2010


Como minha primeira contribuição postarei uma reportagem do jornal Folha de São Paulo sobre a possível separação do Sudão em Sudão do Norte e Sudão do Sul.

Será que haverá mais esta mudança no mapa-mundi?















Sudão incuba o país mais pobre do mundo Região sul, que deve votar pela independência em menos de um ano, tem condições precárias, mas possui jazidas inexploradas de petróleo


Plebiscito sobre separação é item mais polêmico de pacto de paz assinado em 2005, interrompendo conflito que matou 2 milhões desde 1983

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A JUBA (SUDÃO)


Em menos de um ano, Juba, cidade que cresce desordenadamente na selva sudanesa, deve virar capital de um novo país ou centro de outra guerra africana. Possivelmente, ambos.
Certo é que o novo país, se as expectativas se confirmarem e o plebiscito sobre a independência for aprovado em janeiro, já nascerá o mais pobre do mundo. A previsão é da ONU.
"Mesmo para os padrões africanos, o que se vê aqui é assustador", diz Lise Grande, coordenadora da operação humanitária da ONU nos dez Estados do sul do Sudão que formariam o novo país. O atual Sudão perderia 25% de sua área.
Mais de 90% dos 10 milhões de habitantes vivem abaixo da linha de pobreza. Apenas 10% das crianças são vacinadas. Virtualmente todas as mulheres (92%) são analfabetas.
Cerca de 45% da população não tem comida suficiente, sendo 18% em "risco crítico" de desnutrição. A região, que faz fronteira com a Etiópia, ganhou da ONU o título de "capital mundial da fome".
"Se a próxima colheita falhar como as últimas, é muito provável que teremos uma grande crise de fome", afirma Grande.
A fome pode chegar junto com a independência, portanto.
Os indicadores dramáticos são resultado de décadas de isolamento geográfico e esquecimento por parte do governo central do Sudão, majoritariamente árabe.
O plebiscito é o item mais polêmico do acordo de paz assinado em 2005 entre Cartum e rebeldes do Movimento de Libertação do Povo Sudanês, representante do sul, etnicamente negro. Os dois lados lutavam desde 1983, num conflito que deixou 2 milhões de mortos.
O presidente do Sudão, Omar al Bashir, promete respeitar o resultado da consulta, em que todas as apostas são de vitória da independência, mas um componente comum em guerras africanas atrapalha esse prognóstico: o petróleo. O sul é rico em jazidas inexploradas.
Não há pesquisas de opinião, mas nas ruas é difícil encontrar quem seja contra a separação.
"Queremos ser livres para administrar nossos recursos, como fazem todos os países", afirma Malisi Wilson, 25, carpinteiro, numa favela que brotou nas últimas semanas em frente à sede do governo regional.

Adicione-se a isso o aumento da violência. Em 2009, 392 mil pessoas tornaram-se "refugiados internos" em razão de disputas tribais. Até março de 2010, foram mais 70 mil.
O sul do Sudão, assim, tem todos os ingredientes para ser mais um "Estado falido".
O termo maldito ainda é dito em voz baixa e com muito cuidado pela grande família de ONGs e organismos multilaterais presentes em Juba. Mas todos sabem do risco.
A vizinhança não ajuda. Partindo do noroeste, há um arco de instabilidade formado pela região sudanesa de Darfur, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, o norte de Uganda (base de operações do Exército de Resistência do Senhor, famoso por sequestrar crianças e escravizá-las) e o Quênia, não mais um bastião de estabilidade.
Com 10 mil pessoas na área, a ONU promete ficar para evitar o pior. "O sul do Sudão precisará de assistência por 15 ou 20 anos", diz David Gressly, coordenador regional da missão.


Fonte: Folha de São Paulo, 25/04/10

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